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O ENSINO DE HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL: DIFICULDADES E PERSPECTIVAS
João Paulo de Oliveira Farias
Prof. Esp. FAFIBE

Muitos estudos referentes ao ensino de história nascem das indagações do porque estudar história, qual razão efetiva existe para o mesmo, principalmente qual a razão para a preocupação na maneira como este ensino tem sido construído. Nas séries iniciais, a história ainda tem permanecido distante do interesse, presa às fórmulas prontas do discurso dos livros didáticos ou regulada as práticas determinada pelo calendário cívico, muitas vezes não fortalecendo o senso crítico nos alunos, os quais recebem as informações sem nenhum tipo de questionamento. Para Conceição Cabrine:
O aluno deve exercer seu senso crítico, perder o medo e a preguiça de fazê-lo, atitudes estas tão próprias de uma sociedade que nos leva cada vez mais a consumir como mercadoria o conhecimento pronto e acabado. Muitas vezes, é o próprio aluno (até mesmo na universidade) que oferece forte resistência em mudar essa situação, pressionando o professor a dar somente aulas expositivas, recusando-se, portanto, ele mesmo, à leitura e à reflexão. (CABRINE, 2000, p.67)
É necessário que se afirme a importância da História no currículo escolar, acima de tudo, se entenda que esta disciplina pode desenvolver os alunos como sujeitos conscientes na prática da cidadania. Pois, como sabemos, o ensino da disciplina contribuí para a formação afetiva, intelectual, cultural e política, estimulando e desenvolvendo aptidões, reflexões e o senso crítico, que devem ser despertadas ainda no Ensino Fundamental para que o educando “cresça” com toda uma equipagem de conhecimento histórico necessária para seu cotidiano escolar e social.
É no ensino fundamental que se iniciam as primeiras opiniões, as primeiras formações e informações a respeito de uma disciplina ou sobre determinados assuntos.  Ao entrarmos em contato com o ensino de história na Educação Básica, percebemos que muitas vezes ela ainda é transmitida com metodologias e currículos não adequados à realidade em que se encontram os alunos, o que causa entre estes estudantes descasos, apatias, desinteresse e até abandono pelo estudo da mesma.
Por que os alunos encontram tantas barreiras no estudo de história? Os professores estão preparados para algumas situações encontradas em sala de aula? Essas barreiras são criadas pelos alunos ou pelos professores que na maioria das vezes transmite a disciplina de má vontade, apenas reproduzindo o que o livro apresenta, já que alguns nem mesmo são formados na área, deixando o interesse pela pesquisa longe do verdadeiro sentindo da disciplina?
Produzir conhecimento não é uma tarefa muito simples, principalmente no campo da história, pois nem todos os professores estão preparados ou tem condição para tanto e, ainda, pelo fato da disciplina encontrar resistência entre os alunos no ensino fundamental.
O estudo de história é uma matéria de grande importância na grade curricular e deve ser despertada de forma que a mesma auxilie esse cidadão crítico que se pretende “criar”.
[...]suas múltiplas relações com as várias dimensões da sociedade, sua posição como instrumento científico, político, cultural, para diferentes grupos, indica a riqueza de possibilidades para o seu estudo e o quanto ainda há para investigar. (FONSECA, 2003, p.28)
Portanto, a análise dessas tentativas de fazer os alunos compreenderem o sentindo das aulas de história, proporcionando-lhes instrumentos necessários para que possam vislumbrar todos os lados de uma mesma questão, refletindo a partir de diferentes interpretações, os quais seriam levados à construção do conhecimento histórico em sala de aula.
Um ponto interessante ainda é considerar a maneira de como alguns professores se utilizam através de metodologias e conteúdos que afetam dentre outros à própria concepção de fato histórico, pois são muitos os que ainda usam das mesmas metodologias e praticas pedagógicas, colocando em evidencia a tradicional maneira de ensinar história na qual concentram-se à anos nessa estrutura de ensino, “educando” os alunos de modo que essas praticas desprezam a reflexão histórica.
O trabalho de Marília Beatriz Azevedo Cruz nos indica os problemas e os questionamentos sobre esse modelo tradicional de ensino em que alguns educadores ainda estão inseridos, os quais.
Promove uma visão limitada do conhecimento, favorecendo a formação de mentes acríticas e passivas, meros propósitos de fatos e informações fragmentadas, contribuindo para uma concepção também acrítica da sociedade que passa a ser aceita, também, como pronta e acabada, portanto, não passível de ser transformada. (CRUZ, 2004, pp.67-76)
Cada época faz uma trajetória e a busca por respostas às duvidas que vão surgindo aos problemas políticos e pedagógicos que estamos vivenciando só poderão ser esclarecidos através de estudo e análise da disciplina em questão. E é nesse ponto para o que a educação escolar é alvo e a resposta para nossas inquietações. Pois sendo a escola um lugar social, espaço de conflitos, diferentes culturas, ela exerce um papel fundamental na formação da consciência histórica dos cidadãos.
Vejamos como Circe Bittencourt esclarece a importância da disciplina para o processo de formação de sujeitos que se interessam por discutir as questões relacionadas aos seus direitos e deveres políticos, como cidadãos dentro da sociedade, como se faz necessário e com que finalidade serve o ensino de história e sua relação com a escola em geral:
Consideramos que a escola e em particular o ensino de história tem um papel fundamental nesse processo. É ela, em ultima instância o lócus privilegiado para o exercício e formação da cidadania, que se traduz, também, no conhecimento e valorização dos elementos que compõem o nosso patrimônio cultural. Ao socializar o conhecimento historicamente produzido e preparar as atuais e futuras gerações para a construção de novos conhecimentos, a escola está cumprindo seu papel social. (BITTENCOUT, 2008. P.7)
Das transformações ocorridas no ensino, principalmente a partir da criação de um referencial curricular vinculados em todos os Estados brasileiros, no caso a de maior destaque a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, na qual há toda uma legislação que serve como um importante avanço na luta pela cidadania. Tais políticas públicas propostas na LDB enfatizam uma colaboração entre governo federal, estadual e municipal, necessária à educação. Portanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional busca uma educação com objetivos em contribuir, nos diversos âmbitos do desenvolvimento do educando, procurando estabelecer as condições básicas para suas necessidades, ampliando com isso suas aptidões de aprendizagem.
Sobre o ensino de história no ensino fundamental, em um contexto geral, vemos que vem sendo discutidos e questionados alguns dos principais aspectos, colocados pela LDB. No entanto, há ainda muito por se fazer, sendo a adoção de metodologias inovadoras utilizadas pelos profissionais da educação, sobretudo, pelo professor de história, cada vez mais necessário, pois, a ousadia e a determinação na hora de escolher as atividades a serem abordadas, possam atingir tais objetivos e metas.
Atualmente diversos professores se deparam, diariamente, com dúvidas sobre o que ensinar e como ensinar. Tais problemas afetam de maneira direta e/ou indireta a forma como são repassados os conteúdos em sala de aula e, diante de tantas adversidades vivenciadas na educação, principalmente no ensino público, encontramos: aluno disperso falta de atenção, mau comportamento, baixa frequência e problemas dos mais variados tipos não só relacionados às aulas de História, mas nas demais disciplinas.
Como se sabe o papel do professor, não apenas aqueles que ministram as aulas de história, mas todos os demais, já nos remetem a um trabalho diferenciado e que está em constantes discussões ao seu respeito, pois através de suas atividades detém na formação de muitos outros profissionais, nas mais diferentes áreas possíveis, já que é um dos responsáveis, talvez o mais importante, fonte de referencia aos alunos. Se tratando do professor de história, tal tarefa é ainda maior, pois ao atuar e exercer seu fazer histórico, auxilia na construção da história pessoal daqueles que estão sendo preparados pelo mesmo, ou seja, os alunos.
Uma formação de qualidade supõe que os professores sejam postos em contato com diversos momentos de uma sala de aula, pois propicia atividades que fazem com que educadores participem indireta e diretamente da rotina de sala de aula. Deve ser ainda capaz de mostrar uma concepção pedagógica que transcende o objetivo e estimule a capacidade de questionar, interagir e analisar diferentes hipóteses.
Uma das principais finalidades da formação de professores quer contínua ou inicial, é desenvolver nos alunos o espírito crítico, intelectual, de forma que sejam capazes de se tornarem cidadãos ativos na sociedade em que vivem como nos remete os PCN’s:
Em um estudo de meio, o ensino de História alcança a vida, e o aluno transporta o conhecimento adquirido para fora da situação escolar, construindo propostas e soluções para problemas de diferentes naturezas com as quais defronta na realidade. (BRASIL, 1997, p.62)
Sobre estes e outros aspectos o ensino de História nas escolas da rede pública, como nas escolas particulares deve ser despertado e repensado, a fim de atender os anseios e uma clientela cada vez mais exigente. Sendo necessária e urgente uma discussão ampla e referente ao processo de transmissão desses conhecimentos, pois cada escola deve partir da(s) realidade(s) de seus estudantes.

Referências bibliográficas
BITTENCOUT, Circe (Org.). O saber histórico na sala de aula. 11ª Ed. – São Paulo: Contexto, 2008.

BRASIL. [Lei Darcy Ribeiro (1996)].LDB : Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional : lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. – 5aed. – Brasília : Câmara dos Deputados, Coordenação Edições Câmara, 2010.

CABRINI, Conceição (org.). Ensino de história: revisão urgente. Ed. rev. e ampl. São Paulo: EDUC, 2000.

CRUZ, Marília Beatriz Azevedo. O ensino de história no contexto das transformações paradigmáticas da história e da educação .In: Sonia M. Leite Nikitiuk (org.), Repensando o ensino de história. 5a ed., São Paulo, Cortez, 2004.

FONSECA, Thaís Nivia de Lima e. História & Ensino de História. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

RIBEIRO, Renilson Rosa. O Saber (Histórico) em Parâmetros: O Ensino de História e as reformas curriculares das ultimas décadas do século XX. Revista Virtual de Humanidade, n 10, v. 5, abr/jun.2004. Disponível no site: http://www.seol.com.br/mneme.


12 comentários:

  1. Boa tarde,

    Na sua opinião as dificuldades em ensinar História nos anos iniciais está ligado a falta de um direcionamento das DCNs de Pedagogia, haja vista que a carga horária dessa disciplina no curso é ínfima se comparada as outras disciplinas, e isso se reflete também na carga horária reservada para ensinar História nos anos inciais?

    Obrigado,
    Ramires Carvalho

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    1. Boa Tarde,

      Com certeza Ramires Carvalho, ao entrarmos em contato com o ensino de história nos anos iniciais da Educação Básica, percebemos que muitas vezes ela ainda é transmitida com metodologias e currículos não adequados à realidade em que se encontram os alunos, o que causa entre estes estudantes descasos, apatias, desinteresse, entre outros transtornos.Vemos ainda, que alguns professores por não ter uma formação apropriada na disciplina,comprometem o ensino da mesma pois acabam por reproduzir de modo integral o livro didático, não tendo um posicionamento crítico e reflexivo perante as leituras e contextos históricos.

      João Paulo de Oliveira Farias.

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  2. Além da carga horária reduzida para a disciplina e o despreparo do professor em diversas situações, você considera o engessamento das disciplinas à aulas estritamente teóricas e as falhas constantes nos livros didáticos como limitadores do campos de atuação dos professores?

    Obrigada,

    Iara Medolago Carr

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    1. Boa Tarde Iara,

      Entendemos que ainda há muito por se fazer para um ensino e aprendizagem de história com qualidade e eficácia. Uma possibilidade é a adoção de metodologias inovadoras que os profissionais da educação, sobretudo, pelo professor de história,podem e devem utilizar, pois a ousadia e a determinação na hora de escolher as atividades a serem abordadas, acabam por alcançar mais facilmente alguns objetivos e diretrizes da disciplina.


      Obrigado pela indagação, Espero ter ajudado!

      João Paulo de Oliveira Farias.

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  3. João temos vários estudos sobre o ensino de História e também alguns recursos que antes não tínhamos para ensinar, não estaria o problema maior no profissional que ensina? Digo isso pois estou fazendo estágio de observação em uma escola pública que possui lousa digital com internet e a professora utiliza pouco e o método que ela usa é o tradicional, realizando leitura da apostila e ela explicando o conteúdo sem utilizar nenhum recurso áudio/visual.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Boa Noite Gisele,

      Realmente ao entrarmos em contato com o ensino de história percebemos que muitas vezes ela ainda é transmitida com metodologias e currículos não adequados à realidade em que se encontram os alunos. Vemos ainda, que alguns professores comprometem o ensino da disciplina pois não procuram, como você falou, novos métodos e recursos que poderiam possibilitar uma maior interação, dinamismo e interesse dos estudantes,acabando por reproduzir de modo integral o livro didático, não tendo um posicionamento crítico e reflexivo perante as leituras e contextos histórico e se mantendo na tradicional e ultrapassada forma de ensinar.

      Obrigado pela atenção dada ao trabalho, espero que tenha respondido sua indagação e torço para que enquanto profissional de história, torne-se de excelência e inovação, para que nossos alunos tenham maiores possibilidades de conhecer o real sentido da disciplina.

      João Paulo de Oliveira Farias.

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  4. Olá professor João.
    O seu trabalho mostra a inquietação nos dias atuais tanto por parte dos professores como dos pesquisadores da área de ensino, seja de História ou das demais disciplinas.
    Como professor de ensino fundamental (6º ao 9º ano), noto que a maior dificuldade na minha compreensão é que os alunos em sua maioria não estão levando a escola como algo importante, eles vão para as aulas, mas sem comprometimento, na visão dos alunos, o assistir a aula já é muito. Como converso com professores de outras cidades, noto que isso é de modo geral, o aluno não faz mais trabalho de casa, não realiza leitura fora da sala de aula. O conhecimento está ligado ao seu período dentro da escola, sendo que muitas vezes as indisciplina é o pior pesadelo do professor, já é difícil ensinar a aulas em formação, o que dirá com alunos sem interesse e que acabam prejudicando os demais.
    Acredito que o professor para ter sucesso tem que relacionar o máximo possível do conteúdo com as experiências de vida do aluno, assim ele consegue compreender e ver um sentido nas aulas.
    A minha pergunta é se não estamos nos tornando reféns desse modelo de ensino no qual os alunos tem poucos deveres e muitos direitos? Com essa crise da sociedade (aqui me refiro a valores como respeito e educação) cada vez menos os alunos tem uma formação qualificada. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
    Parabéns pelo seu trabalho.
    Anderson da Silva Schmitt

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    1. Olá Anderson,

      Concordo com você, realmente hoje o professor lida com diversos problemas em uma sala de aula,a indisciplina e a falta de interesse são os mais graves e preocupantes.Houve mudanças significativas nos últimos anos e nossa clientela também mudou, hoje já não dispomos de salas de aulas em que predomina o respeito e alguns valores essenciais para uma boa formação e é justamente nesses pontos que a disciplina se torna ainda mais importante, pois através dela poderemos fazer alguns direcionamentos: ao atuar e exercer o fazer histórico, o professor poderá auxiliar na construção da história pessoal daqueles que estão sendo preparados, ou seja, os alunos.Levar um pensamento crítico e reflexivo é de suma importância para que o sujeito compreenda que além de direitos existem deveres que devem ser respeitados e mantidos para que exista uma sociedade mais justa e melhor.

      Interessante seu ponto de vista Anderson, agradecemos sua rica contribuição.


      João Paulo de Oliveira Farias.

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  5. Olá Anderson,

    Concordo com você, realmente hoje o professor lida com diversos problemas em uma sala de aula,a indisciplina e a falta de interesse são os mais graves e preocupantes.Houve mudanças significativas nos últimos anos e nossa clientela também mudou, hoje já não dispomos de salas de aulas em que predomina o respeito e alguns valores essenciais para uma boa formação e é justamente nesses pontos que a disciplina se torna ainda mais importante, pois através dela poderemos fazer alguns direcionamentos: ao atuar e exercer o fazer histórico, o professor poderá auxiliar na construção da história pessoal daqueles que estão sendo preparados, ou seja, os alunos.Levar um pensamento crítico e reflexivo é de suma importância para que o sujeito compreenda que além de direitos existem deveres que devem ser respeitados e mantidos para que exista uma sociedade mais justa e melhor.

    Interessante seu ponto de vista Anderson, agradecemos sua rica contribuição.


    João Paulo de Oliveira Farias.

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  6. Boa noite! Trabalho com História no Ensino Fundamental e sou completamente apaixonada pelos conteúdos que trabalho. A curiosidade das crianças, a vontade de viajar na História e conhecer o velho mundo novo são ímpares. Tento dotar de sentido as aulas. Gostei demais do seu trabalho e gostaria de saber, se na sua opinião existe um desestímulo natural dos alunos pela História quando essa é trabalhada a partir de uma abordagem muito tradicional?
    Att: IEDA MAYARA DE SANTANA.

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