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POSSIBILIDADES DO ENSINO DE HISTÓRIA E DOS MOVIMENTOS SOCIAIS CONTEMPORÂNEOS A PARTIR DAS NOVAS TECNOLOGIAS
Valdenira Silva de Melo
Prof. Esp. UEM

As novas discussões historiográficas voltados para os métodos de ensino tem levado estudiosos a refletir sobre tais práticas. A questão metodológica no ensino de História é tema de reflexões e debates na   tentativa de encontrar ou criar estratégias didáticas, de como melhorar a prática docente. Para tanto, esta produção apresenta possibilidades de como podemos trabalhar com os movimentos sociais no ensino de História utilizando as linguagens de ensino das novas tecnologias.
Em relação ao ensino de História tendo como foco as novas tecnologias, Maria Vandete Almeida (2016, p.81) discute vários conceitos sobre as redes sociais, porém, destacamos o seguinte:
Mas  é sob o ponto de vista tecnológico que a noção de rede ou o termo em si assume maior conotação e torna-se tema de acirrados e extensos debates dentre estudiosos das diversas áreas do conhecimento que apresentam e defendem amplas perspectivas de estudos e de análise em torno de suas características, possibilidades e potencialidades observadas a partir do avanço e propagação das tecnologias de informação e comunicação, uso de computadores e ambientes virtuais propiciados por redes eletrônicas de informações que originaram novas formas de interação e sociabilidade humanas, independentes de distâncias e de laços sociais, e que decorreram na formação de uma “cultura global” afirmada no impacto dos espaços virtuais abertos pelas conexões das redes informatizadas.
É nesse sentido, definido por Almeida, que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) ganham maior proporção e revolucionam a Contemporaneidade, influenciando mudanças significativas também, no contexto educacional. De acordo com Lapa; Beloni (2010, p.15):
Então, neste contexto de mudança, a inovação tecnológica é responsabilizada pela quebra de paradigmas. Essa leitura dos acontecimentos contemporâneos serve bem à construção de uma abordagem tecnológica na qual os teóricos que a defendem pregam a inevitabilidade de uma vida digital.
Desta forma, podemos dizer que trabalhar com as novas tecnologias no ensino de História, é um grande desafio, visto que muitos docentes não sabem utilizar as ferramentas multimídias. Destacamos também que assim como tem alunos que tem acesso a internet e domina o mundo virtual, tem aqueles que não se enquadram nesse padrão.
A partir da década de 90, segundo Almeida (2016), há uma intensificação das TIC’s e com ela a redução da distância entre as pessoas e as nações, consagrando naquilo que denominou-se de virtual. Essa rede de articulação virtual ganhou enormes proporções que permitiu principalmente, a interligação entre os sujeitos sociais.
Um exemplo de como trabalhar com os movimentos sociais utilizando as tecnologias, é partindo dos conceitos. Os movimentos sociais são “redes de articulações” que precisam ser entendidas nos seus diversos aspectos levando em consideração a conjuntura política em que essas manifestações são evidenciadas. Assim considera Gohn (2011, p.335, 336):
Na ação concreta, essas formas adotam diferentes estratégias que variam da simples denúncia, passando pela pressão direta (mobilizações, marchas, concentrações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, atos de desobediência civil, negociações etc.) até as pressões indiretas. Na atualidade, os principais movimentos sociais atuam por meio de redes sociais, locais, regionais, nacionais e internacionais ou transnacionais, e utilizam-se muito dos novos meios de comunicação e informação, como a internet.
Essas estratégias de mobilização através das redes sociais permite uma linguagem de ensino que busque analisar a História e os sujeitos sociais envolvidos nesse contexto de forma crítica. Dessa forma, para trabalhar com os movimentos sociais contemporâneos, é necessário evidenciar os interesses que estão implícitos nas informações veiculadas pelas TIC’s, principalmente as mídias de massa (televisão e rádio). Analisar a conjuntura política, econômica e social do país e relacioná-las as ações coletivas são primordiais para compreender a atuação dos movimentos sociais.
Uma possibilidade do ensino de História, voltado para os movimentos sociais contemporâneos é a atual conjuntura política do Brasil, dando ênfase aos movimentos de 2015, que culminou com o golpe em maio de 2016. As redes sociais utilizadas para divulgar o movimento “Vem pra rua”, possibilitou a articulação entre as pessoas que culminou com as manifestações materializadas nas regiões do Brasil.
A veiculação das manifestações sociais, principalmente, por emissoras de televisão interessadas na destituição do poder democrático, foi fator decisivo na construção da opinião pública e do apoio ao movimento golpista, situações evidenciadas pela força das TIC’s e sua influência no âmbito social. Sobre as manifestações que antecederam o golpe:
É, porém, importante sublinhar que isso se trata do movimento que os meios fazem em seu benefício, o que não significa que não encontrem contestação ou resistência. É assim que, quando no dia 15 de março de 2015, a manifestação que contou com a decisiva participação deles em sua arquitetura e convocação nas páginas dos seus jornais, telas de TV e aparelhos de rádio, o que foi depois por eles insistentemente apresentado como “movimento espontâneo organizado pelas redes sociais”, se caracterizou como um espécie de espelho dos grupos dominantes. Tirando as faixas e cartazes de grupos organizados mais radicais que pregavam a subversão das instituições ou se apresentavam com slogans sexistas, de baixo calão, preconceituosos e etc., na maioria das vezes beirando o, senão comendo, crime, os meios se esforçaram em mostrar atos carnavalizados, coloridos, bem-humorados, sem violência, quase ascéticos, moralmente impolutos. Transformaram a política em espetáculo de boulevard, tanto no sentido de que levada às ruas, quanto no sentido de elitista, para as famílias, no claro sentido de tornar o governo cada vez mais refém da sua agenda. (GRIJÓ, 2015, p.10)
Trabalhar no ensino de História essa possiblidade tecnológica, permite analisar os sujeitos envolvidos nos movimentos sociais e seus reais interesses, ao mesmo tempo que promove maior participação do aluno na discussão visto estar utilizando uma ferramenta que domina e lhe interessa, quando se refere a internet. Por outro lado, permite construir conceitos e perceber que ao longo da história a mídia de massa, se faz presente e manipula a opinião pública em prol de seus interesses.
Cabe analisar se os movimentos de 2015 foram de fato “movimentos espontâneos” ou movimentos induzidos, intencionais partindo de um discurso manobrista de oligopólios midiáticos que induziram a opinião pública. Partindo de tais questionamentos, o ensino de História deve possibilitar ao aluno emitir o   seu ponto de vista e ao longo de leituras e discussões construir sua autonomia intelectual e crítica.
Portanto, cabe ao docente historiador se valer dessa ferramenta e fazer uma reflexão em sala de aula quanto a informação enquanto produto de um grupo social e político construída para atender aos interesses do poder e do capital, e dessa forma poder contribuir com uma aprendizagem significativa visto que o aluno parte dos acontecimentos de seu tempo para a compreensão das estruturas políticas e sociais que permanecem na vicissitude do poder.

Referências bibliográficas
ALMEIDA, Maria Vandete (Negavan) Revoluções Tecnológicas, Redes Sociais e Movimentos Contemporâneos. In: BRUNELO, Leandro (Organizador). Ensino de História e Movimentos Sociais: Problematizações, Métodos e Linguagens. Editora UEM/PGH/História, Maringá, 2016. p.75-96
GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais na contemporaneidade. In: Revista Brasileira de Educação v. 16   n. 47   maio-ago. 2011. Universidade Estadual de Campinas. Universidade Nove de Julho.
GRIJÓ, Luiz Alberto. Mídia e poder no Brasil Contemporâneo: a democracia sequestrada. In: XXVIII Simpósio Nacional de História. Lugares dos Historiadores: Velhos e Novos Desafios. Florianópolis, 2015.

LAPA, Andrea Brandão; BELLONI, Maria Luiza. Introdução à educação a distância. Florianópolis: UFSC/CED/NUP, 2010.

2 comentários:

  1. Como utilizar os recursos de midia social para a apredizagem da criticidade humana de alunos ainda tao jovens que estao sempre conectados, pois tais recursos nao podem ser usado como meio de manipulação social como foi acima citado

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    1. Olá Kamyla!

      A utilização da mídia pode ser utilizada para confrontar a forma como as informações são veiculadas e a partir de então fazer a comparação e a intenção de tais conteúdos. Quanto aos jovens é necessário estimulá-los à criticidade principalmente em relação a conjuntura política como no exemplo mencionado no texto, pois apesar de eles terem contatos com a internet, o que é mais evidente é a utilização das redes sociais em detrimento de um posicionamento crítico da realidade social.
      Discordo de seu posicionamento quanto a manipulação social, pois a mídia manipula sim o coletivo quando essa é a sua intenção, principalmente as mídias de massa. Um exemplo caro disso é a Rede Globo. Veiculou os manifestos de 2015 e 2016 enfatizando seu interesse e como resultado a destituição do poder democrático e a aprovação de um “pacote de maldades” concedida a massa manipulada, o povo.

      Att,

      Valdenira Silva de Melo.

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