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O ENSINO TEÓRICO-PRÁTICO DE HISTÓRIA DAS REVOLUÇÕES E MOVIMENTOS SOCIAIS NA CONTEMPORANEIDADE: UMA ÓTICA A PARTIR DO USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS E DO CINEMA
Wilverson Rodrigo Silva de Melo
Prof. Dnt. UFOPA

Introdução
Segundo os postulados teóricos da Historiografia, inferimos que as disciplinas escolares são construções históricas que se relacionam diretamente com o contexto e a organização da produção científica. As disciplinas escolares em seus diversos âmagos constitutivos respondem, ou correspondem às perspectivas e aos paradigmas da produção científica em determinada temporalidade histórica.
É na sala de aula que a História como disciplina se materializa a partir da reflexão acerca dos diversos discursos políticos, econômicos, sociais e culturais. Também neste mesmo espaço que os conceitos são historiografados, no momento que são entendidos e suas especificidades e temporalidades históricas. Os discursos, os conceitos, as ações tornam-se representações sociais das mais diversas e variadas matizes culturais, rompendo não só com o sofisma de uma história totalizante, mas, também, pluralizada e pulverizada no que tange à dinâmica do próprio fazer humano em sua coletividade.

O Ensino da temática das Revoluções e Movimentos Sociais em sala de aula: o uso das TIC’s e cinema como aportes didáticos
Em relação ao ensino de História tendo como foco as novas tecnologias, podemos dizer que trabalhar com as novas tecnologias no ensino de História, é um grande desafio, visto que muitos docentes não sabem utilizar as ferramentas multimídias. Destacamos também que assim como tem alunos que tem acesso a internet e domina o mundo virtual, tem aqueles que não se enquadram nesse padrão.
A partir da década de 90, segundo Almeida (2016), há uma intensificação das TIC’s e com ela a redução da distância entre as pessoas e as nações, consagrando aquilo que denominou-se de virtual. Essa rede de articulação virtual ganhou proporções que permitiu principalmente, a interligação entre os sujeitos sociais.
Conforme Melo (2013) as reflexões e diálogos teóricos devem partir da premissa de historicizar a aplicabilidade do construtivismo e uso das “Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s)” em sala de aula como elementos auxiliadores – quiçá reeducadores – na construção do respeito as diferenças e as questões relacionadas ao “outro”, sobretudo na promoção dos direitos humanos e no combate as intolerâncias sócio-culturais que muitos grupos sociais sofrem seja no âmbito de gênero, raça, classe, religiosidade, orientação sexual, acessibilidade, etc.
O uso das TIC’s além de diminuir as barreiras geográficas, quebra as disparidades sociais de acesso a informação, leva o alunado a sair do mundo da simples leitura para uma leitura de mundo, ajuda aqueles que sofrem de timidez, assim como passa a funcionar como modificador de comportamentos e conhecimentos (MELO, 2013, p. 139).
Isto implica dizer, que ação de colocar os indivíduos numa teia de relações, metaforicamente a rede mundial de comunicação, além de diminuir as distâncias geográficas, estimula as organizações dos movimentos sociais contestatórios e de reivindicações sócio-políticas produzindo atos e manifestações de massa, a exemplo dos movimentos de Primavera Árabe, Primavera Egípcia e do “Vem pra Rua” no Brasil (2013), que semelhantes a Revolução Mexicana de Francisco Madero, passaram a ter dia e horários marcados para começar – atos possíveis mediante o uso das TIC’s como ferramenta e fonte dos movimentos sociais.
Quanto ao uso do cinema no ensino de História, inferimos que trabalhar o conceito de movimentos sociais, segundo Brunelo (2016, p.99) significa entender que “as formas de organização coletiva se vinculam não apenas às demandas de ordem socioeconômicas, mas se relacionam às reivindicações de caráter político e cultural”.
Dessa forma, trabalhar o cinema em sala de aula requer certos cuidados metodológicos, como o compromisso de o professor assistir antes, seja filmes, documentários, reportagens, etc. e a partir daí fazer conexões com o tema em estudo. Há também a possibilidade do trabalho interdisciplinar, conforme afirma Brunelo (2016, 104):
O trabalho didático-pedagógico que envolve a apresentação de filmes também pode recorrer à interdisciplinaridade, pois os docentes das diversas áreas do conhecimento podem se unir e elaborar um roteiro de trabalho que contemple os seus respectivos domínios do saber e relacioná-los à linguagem fílmica.
Partindo do pressuposto de que um filme não retrata fidedignamente uma dada realidade tal como ela é ou foi, porque nada mais é do que uma representação, o filme pode ser considerado uma importante fonte de pesquisa, uma espécie de produto cultural que traz junto de si signos, entretenimento e emoções que precisam ser decodificados para serem percebidos em sua essência (BRUNELO, 2016, p. 99-100).
Amiúde, isto implica dizer que é salutar analisar a perspectiva de produção de ideologias e verdades sofisticas a partir das produções fílmicas. Ver a indústria cinematográfica como propagandizadora de uma ideologia que pretende reforçar o colonialismo e uma visão tradicional da História. É possível descontruir esses estereótipos ideológicos por meio da operação historiográfica, ao se questionar sobre quem produziu? Quando produziu? Qual a ideologia de quem produziu? Para qual finalidade produziu? Quais os fins esperados no agente passivo que recebe as informações contidas no filme?
Produzir essas problematizações e indagações acerca da produção e veiculação do cinema é pertinente para se pensar noções de revolução e movimentos sócias a partir de porções de historicidade no tempo presente. É ainda mais perspicaz introduzir em sala de aula a relação entre ficção e história narrativa, mostrar como ambas produzem um discurso, o qual pode ser visto por vários prismas.
Se o cinema retrata traços fictícios de uma revolução e/ou atuação de movimentos sociais, não devemos desconsiderá-los, pelo contrário, devemos compreender e fazer com que o aluno assimile que tal produção fílmica é uma centelha do acontecimento histórico passado sendo reproduzido em uma tela do tempo que se apresenta ao telespectador. E nesse sentido, tanto o cinema ao retratar sobre revolução e movimentos sociais, como as narrativas produzidas pelo historiador se assemelham, pois ambas não externam o real, não são pedaços completos congelados do passado e que agora se apresentam no tempo presente, antes são representações, os quais não restituem o real tal qual ele foi, mas apresentam, representam possibilidades de traços do que um dia foi, ou seja, uma ótica da História em meio a tantos caleidoscópios.

Considerações finais
O uso das TIC’s e do Cinema na perspectiva do Ensino de História das Revoluções e Movimentos sociais em sala de aula, longe de apenas serem vistos como ferramentas pedagógicas ou auxílio para professores ministrarem tais temáticas com mais ludicidade, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s) e o Cinema devem ser vistos como fontes historiográficas que ajudam a melhor entender os conceitos e temporalidades das temáticas no Campo da História.
Nesse aspecto, as imagens comunicam mensagens, narram histórias a partir de um lugar, provocando reações diversas e impactando emoções, promovendo sentidos e organizando significados em resposta ao olhar devolvido por aquelas imagens.
Lembremos, também, que a linguagem visual não é universal. Seus significados obedecem a um sistema de representações que se orientam por convenções educacionais, sociais, culturais, políticas, econômicas, ou seja, históricas, que implicam no exercício estruturado de interpretação e (re)significação, pois entre a imagem e o que se representa, existe uma série de mediações, que não restituem o real, mas, reconstroem, voluntária ou involuntariamente a apreensão do real”, como diz Leite (1998, p. 41).
Partindo deste pressuposto, precisamos sem dúvida orientar nossos alunos, das diversas possibilidades ao analisar as fontes (TIC’s e Cinema), pois os escritos são frutos da construção do autor a partir de sua época e de suas experiências, práticas e suposições, e cabe a nós professores, conforme nos diz Veyne (1998, p. 18), “simplificar, organizar e fazer com que um século caiba numa página” e, de igual modo desenvolver o sentido crítico e consciência histórica dos alunos quanto a temática da História das Revoluções e Movimentos Sociais, a partir da conceituação, contexto social e desdobramentos historiográficos.

Referências
ALMEIDA, Maria Vandete. Revoluções Tecnológicas, Redes Sociais e Movimentos Contemporâneos. In: BRUNELO, Leandro (Org.). Ensino de história e movimentos sociais: problematizações, métodos e linguagens. Maringá, UEM-PGH-História. 2016.  p. 75-96.
BRUNELO, Leandro. Movimentos sociais contemporâneos e cinema: uma interface com o ensino de história. In: BRUNELO, Leandro (Org.). Ensino de história e movimentos sociais: problematizações, métodos e linguagens. Maringá, UEM-PGH-História. 2016.  p. 97-121.
LEITE, Miriam M. Texto visual e texto verbal. In: BIANCO, Bela; LEITE, Miriam M. (Orgs.). Desafios da Imagem. Campinas: Papirus, 1998.
MELO, Wilverson Rodrigo Silva de. O Construtivismo e o uso das TIC’s: práticas para a descolonização dos Currículos Escolares e incentivo à educação no contexto dos direitos humanos e das relações étnico-raciais. In: VIII Congresso de Ciência e Tecnologia da Amazônia e XIII Salão de Pesquisa e Iniciação Científica do CEULS/ULBRA, 2013, Santarém. Pesquisa, Educação e Inovação. Santarém: Editora do CEULS/ULBRA, 2013. p. 137-141.
VEYNE, Paul. Como se Escreve a Historia e Foucault Revoluciona a Historia. 4. ed. Brasília: Universidade de Brasília (UnB), 1998. 

3 comentários:

  1. Olá Wilverson,
    Num contexto de grande radicalização das posições políticas, como o professor deve lidar com esse fenômeno em sala? Pergunto porque naturalmente a escola é um reprodutor das posições políticas, e essa realidade poderá ser ainda mais agudizada pela inserção, como você bem colocou, na "rede mundial de comunicação".

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  2. Caro Wilverson, parabéns pela exposição.

    Gostaria que comentasse sobre o uso das TIC no ensino da história do tempo presente em um contexto em que essas ferramentas têm contribuído sobremaneira para a produção das chamadas “pós-verdades”.

    Grato

    Fernando Santana de Oliveira Santos

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  3. Boa noite Professor Wilverson.

    Estudando o tema proposto em seu trabalho, percebi a importância de estarmos atentos as possibilidades de uso dos TIC's e associar as práticas com a realidade vivida pelos educandos.
    É fato que os filmes também sugerem uma aproximação da interpretação dos momentos históricos e a possibilidade de comprar as questões discernindo o conteúdo da ficção.
    Neste sentindo, gostaria de receber sugestões com relação a estratégias de trabalhos que pudessem ser aplicados de forma dinâmica no uso destes recursos.


    Patrícia de Souza Santana.

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